06 março, 2012

Exercício criativo


A Tríade

Eladan puxou as rédeas, forçando Rixor a cessar o galope no alto da colina de onde se podia contemplar toda a vastidão do mar além da estreita faixa de areia que se estendia por apenas alguns metros e se encerrava em um agrupamento de falésias baixas. O garanhão branco relinchou para o ar e sacudiu a crina, visivelmente perturbado com o estrondoso barulho das ondas se chocando contra as falésias rochosas. Eladan deu duas palmadas leves no pescoço do animal e desmontou ainda segurando as rédeas, absorto diante da bela visão do extenso mar verde que se alongava até o por do sol alaranjado sob um manto azul que já exibia as primeiras estrelas da noite por vir. O elfo foi tragado de volta à realidade pela voz grave e volumosa de seu companheiro.
- Encontrou o que procurava? – o som daquela voz parecia um trovão precedendo o dilúvio.
- Agora não, Talles. – Eladan voltou-se para encarar o minotauro – Ainda falta alguém.
Diante do esguio e vistoso elfo Talles era um monstro enorme. Tinha o dobro de sua altura e pesava cerca de meia tonelada de músculos treinados para o combate, encobertos pela pelagem negra característica do clã dos Telvar. A couraça metálica seccionada em placas cobria-lhe o torso e um dos ombros, onde a placa em forma de concha exibia espinhos metálicos do tamanho dos dedos da mão de um homem. Sob o saiote de malha de aço, Talles vestia um largo calção de linho grosso que se encerrava sob as caneleiras trabalhadas em couro, enquanto nas costas o minotauro trazia um pesado escudo de corpo trabalhado em madeira preso por um cinto de couro que também sustentava uma poderosa alabarda. Sob os chifres longos e curvados para frente, Talles encarava Eladan com uma expressão séria, militar, exibindo uma cicatriz estendida de sua testa até a maçã direita do rosto que lhe cobria também o olho cego.
- A pequena não virá – afirmou Talles enquanto erguia o olhar para o horizonte – o povo dela tem medo de ver o próprio sangue. São covardes demais.
Ele não entende, pensou Eladan, imaginando que o ser à sua frente fora formado apenas para viver pela batalha, portanto jamais perceberia a riqueza daquele cenário, as minúcias do momento que viviam naquele dia. Os elfos são uma raça conhecedora da ordem natural, da formação dos elementos, e suas habilidades em moldar as forças que regem a vida provem de um profundo conhecimento transmitido por eras entre o povo das florestas. Um bárbaro como Talles, por mais bem intencionado que fosse seu coração, jamais compreenderia o poder arcano disponível naquele lugar, bem como a necessidade de um ser que estivesse mais habituado a moldar este poder específico para o propósito que os trouxera ali.
Algumas horas após o cair da noite, Eladan interrompeu sua meditação ao perceber a aproximação de uma presença mística.
- Talles, temos companhia – alardeou o elfo.
O forte minotauro saiu instantaneamente de sua posição de guarda e voltou-se para a base da colina oposta à praia, de onde se via uma pequena esfera de suave luminescência esverdeada. Antes que Talles pusesse à mão sua arma, Eladan o impediu com um gesto de mão, para então cumprimentar sua convidada com uma discreta mesura.
- Seja bem vinda, Irii Nixa, filha da tempestade.
O globo de luz se desfez, revelando uma diminuta garota de pele acinzentada e cabelos negros, coberta por minúsculas faixas de cetim negro presas ao corpo por argolas prateadas.
- Saudações, Eladan, príncipe de Damantria e senhor dos Vena’ri – a fada repetiu a vênia do elfo e em seguida se voltou para o rígido minotauro – e este deve ser Telvar Talles, o general da Horda de Lanças, estou correta?
Talles não conseguiu conter o orgulho.
- Sei que sou conhecido, mas não sei que é você, pequenina.
Eladan suspirou, dirigindo um olhar de censura ao companheiro.
- Esta é a Sídhe que irá nos guiar. – apesar da irritação, Eladan tentou ser diplomático – Seu povo é conhecido pelo vasto entendimento dos portais planares, o que é exatamente o que iremos precisar.
- E o que faremos com um portal planar? – questionou Talles, quase sem dar importância à própria pergunta.
Eladan correu o olhar entre os dois aliados, afastou-se caminhando de frente para eles e, com um ar de satisfação, exprimiu as palavras com profunda solenidade.
- Nós, meu irmão de armas, iremos salvar o mundo.





Obs: Este texto é apenas um exercício, podendo ou não se tornar parte integrante de um romance a ser elaborado posteriormente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário