Quem nunca ouviu falar da lenda do Rei Arthur e de sua espada mágica? Qual garoto nunca sonhou em ser um cavaleiro da Távola Redonda, lutar contra dragões e salvar belas donzelas indefesas?
Ao longo dos séculos, as célebres aventuras arturianas emocionaram e inspiraram milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas, como um mito inicialmente britânico foi capaz de tocar tanta gente, e por tanto tempo?
As lendas de Excalibur e do Cálice Sagrado não são apenas britânicas, são universais. Elas influenciaram imensamente toda a literatura ocidental e teceram as bases para a formação do caráter do herói como nós o conhecemos hoje.
JORNADA PAGÃ, HERÓI CRISTÃO
Em muitos aspectos, os trovadores medievais resgataram o estilo grego de contar histórias. Reaprenderam a clássica jornada do herói e voltaram a trabalhar com arquétipos – o guerreiro, a donzela, o mago, o pirata... esses modelos são tão antigos quanto Édipo e a Esfinge.
Mas o mundo medieval não abrigava mais uma sociedade pagã. Desta forma, o protagonista precisou ser reinventado. O herói deixou de ser o semideus helênico, inconseqüente e arrogante, para se tornar o guerreiro cristão, honrado e humilde.
Arthur acabou se tornando um desses novos heróis, um homem que, como muitos bretões, teve antepassados pagãos, mas deixou de venerá-los para aceitar os valores da Igreja.
O ARTHUR HISTÓRICO
Hoje, com as recentes descobertas arqueológicas, a idéia de um "Arthur histórico" vem ganhando força. A verdade, porém, é que sabemos quase nada sobre a face "real" do suposto monarca.
O principal fator que dificulta as pesquisas é a época em que Arthur teria vivido. Por volta do ano 500 d.C., a Bretanha e a maior parte da Europa Ocidental estavam mergulhadas no caos. A unidade do Império Romano havia entrado em colapso, e a Igreja ainda não era suficientemente forte para manter uma autoridade total. A maioria das cidades foi abandonada, as pessoas se mudaram para o campo e a muitas evidências e relatos foram perdidos.
Os historiadores acreditam que houve na Bretanha um homem importante chamado Arthur – provavelmente um general ou um rei – pelo simples fato de que, naquela época, muitas crianças foram batizadas com este nome. Vale lembrar que, até hoje, as pessoas têm o costume de dar aos seus filhos nomes de pessoas famosas.
Uma hipótese razoável sobre o Arthur histórico sustenta que ele foi um chefe militar chamado Artorius Riothamus, conhecido também como “O Último Romano”, uma figura que teria conseguido expulsar os invasores saxões (por algum tempo) e unificar os domínios da região.
ARTHUR DOS MITOS
Parece um consenso que quase ninguém (nem mesmo os britânicos) está preocupado se Arthur realmente existiu. O filme "Excalibur", de John Boorman, expressa esse sentimento de forma magnífica ao defender que o Rei e a terra “são um só”. Arthur, sua espada mágica, os cavaleiros, a távola e o Santo Graal existem como ícones imaginários, modelos, e não devem ser entendidos como elementos do mundo real.
Uma prova muito clara disso é que as lendas arturianas se passam em um cenário muito diferente àquele do ano 500. O palco dessas aventuras parece estar mais de acordo com um período posterior – a Baixa Idade Média (algo entre os séculos XI e XIV), época em que a própria lenda começou a ganhar força e popularidade.
O Arthur mítico se encaixa muito melhor em uma Europa fantástica, que só existe mesmo na imaginação das pessoas.
SÓ PARA RELEMBRAR
De acordo com a lenda, Arthur foi uma criança de sangue nobre que não tinha a menor idéia de sua verdadeira identidade. Certa vez, Uther Pendragon, obcecado por possuir a dama Igraine, esposa do Duque Gorlois da Cornualha, pediu ao mago Merlim que fizesse um encantamento que o tornasse igual ao duque.
Desta forma, Uther conseguiu ter sua noite com a moça, mas o feiticeiro exigiu um preço: o fruto de sua luxúria. Quando Arthur nasceu, então, Merlim veio buscá-lo, e o entregou ao cavaleiro Sir Ector para que fosse criado como filho adotivo.
Arthur cresceu como escudeiro de Ector. Aos 15 anos, enfim, ele encontrou a espada Excalibur e conseguiu removê-la da pedra, tornando-se assim rei legítimo.
Mais tarde, o monarca se casaria com Guinevere, seu único e verdadeiro amor, a mulher que iria trai-lo com o seu melhor amigo – Sir Lancelot.
Arthur sofreu, e com isso toda a terra adoeceu junto com ele. Iniciou-se assim a busca pelo Santo Graal, o Cálice Sagrado que traria a vida de volta ao rei e ao seu povo.
METÁFORAS E ALEGORIAS
Perceba que, como todo mito, as lendas arturianas são carregadas de alegorias.
A subtração do bebê Arthur por Merlim é uma metáfora que nos ensina que para tudo há um preço, especialmente quando estamos dispostos a ignorar a todos para alcançar nossos objetivos.
O Arthur escudeiro pensa ser um simples plebeu, mas na verdade possui aquele “algo especial”, que no caso é o sangue real. Como ele, nós somos pessoas comuns, somos seres humanos normais que vivemos constantemente tentando ser especiais. Em nossas histórias, somos sempre os heróis.
Quando sofremos uma grave ferida emocional, parece que não só nós, mas o mundo inteiro desaba, tal qual o reino de Arthur, assolado pela tristeza depois da traição de Guinevere.
Mas a busca ao cálice pelos cavaleiros da Távola Redonda nos mostra que podemos sempre encontrar amigos que nos ajudarão a trilhar a árdua jornada rumo ao Graal, o elixir que nos trará de volta à vida e restabelecerá nossas forças.
ARTHUR NA LITERATURA
Os mitos arturianos começaram a se popularizar já no século XII, mas a referência literária mais antiga e provavelmente a mais segura sobre o tema é o livro "Le Morte d'Arthur", de Sir Thomas Malory, publicado em 1485.
Visto aos olhos de hoje, Le Morte d'Arthur não é uma leitura aprazível. É um livro confuso e antiquado, mas é também um material precioso para estudiosos e curiosos.
Romances continuaram a ser lançados ao longo dos anos, em muitos idiomas diferentes, mas foi no século XX que coisa tomou proporções magnânimas.
Uma das séries mais célebres do nosso tempo é "As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley, que explorou o ponto de vista feminino da saga.
Outra autora, Mary Stewart, contribuiu com uma trilogia dedicada a Merlim (A Caverna de Cristal, As Colinas Ocas, O Último Encantamento).
Mais recentemente, o escritor britânico Bernard Cornwell ficou famoso por recontar a lenda utilizando o prisma histórico e colocando o Rei Arthur no cenário “real” do século V.
ARTHUR NO CINEMA
O cinema também soube explorar a popularidade do tema. O melhor filme já feito sobre o Rei Arthur é sem dúvida "Excalibur" (1981), de John Boorman, uma bela homenagem ao mito.
Uma visão totalmente adversa pode ser conferida no razoável "Rei Arthur" (2004), o longa com Clive Owen e Keira Knightley que retrata Arthur como o guerreiro romano que ele realmente pode ter sido.
Ao longo dos séculos, as célebres aventuras arturianas emocionaram e inspiraram milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas, como um mito inicialmente britânico foi capaz de tocar tanta gente, e por tanto tempo?
As lendas de Excalibur e do Cálice Sagrado não são apenas britânicas, são universais. Elas influenciaram imensamente toda a literatura ocidental e teceram as bases para a formação do caráter do herói como nós o conhecemos hoje.
JORNADA PAGÃ, HERÓI CRISTÃO
Em muitos aspectos, os trovadores medievais resgataram o estilo grego de contar histórias. Reaprenderam a clássica jornada do herói e voltaram a trabalhar com arquétipos – o guerreiro, a donzela, o mago, o pirata... esses modelos são tão antigos quanto Édipo e a Esfinge.
Mas o mundo medieval não abrigava mais uma sociedade pagã. Desta forma, o protagonista precisou ser reinventado. O herói deixou de ser o semideus helênico, inconseqüente e arrogante, para se tornar o guerreiro cristão, honrado e humilde.
Arthur acabou se tornando um desses novos heróis, um homem que, como muitos bretões, teve antepassados pagãos, mas deixou de venerá-los para aceitar os valores da Igreja.
O ARTHUR HISTÓRICO
Hoje, com as recentes descobertas arqueológicas, a idéia de um "Arthur histórico" vem ganhando força. A verdade, porém, é que sabemos quase nada sobre a face "real" do suposto monarca.
O principal fator que dificulta as pesquisas é a época em que Arthur teria vivido. Por volta do ano 500 d.C., a Bretanha e a maior parte da Europa Ocidental estavam mergulhadas no caos. A unidade do Império Romano havia entrado em colapso, e a Igreja ainda não era suficientemente forte para manter uma autoridade total. A maioria das cidades foi abandonada, as pessoas se mudaram para o campo e a muitas evidências e relatos foram perdidos.
Os historiadores acreditam que houve na Bretanha um homem importante chamado Arthur – provavelmente um general ou um rei – pelo simples fato de que, naquela época, muitas crianças foram batizadas com este nome. Vale lembrar que, até hoje, as pessoas têm o costume de dar aos seus filhos nomes de pessoas famosas.
Uma hipótese razoável sobre o Arthur histórico sustenta que ele foi um chefe militar chamado Artorius Riothamus, conhecido também como “O Último Romano”, uma figura que teria conseguido expulsar os invasores saxões (por algum tempo) e unificar os domínios da região.
ARTHUR DOS MITOS
Parece um consenso que quase ninguém (nem mesmo os britânicos) está preocupado se Arthur realmente existiu. O filme "Excalibur", de John Boorman, expressa esse sentimento de forma magnífica ao defender que o Rei e a terra “são um só”. Arthur, sua espada mágica, os cavaleiros, a távola e o Santo Graal existem como ícones imaginários, modelos, e não devem ser entendidos como elementos do mundo real.
Uma prova muito clara disso é que as lendas arturianas se passam em um cenário muito diferente àquele do ano 500. O palco dessas aventuras parece estar mais de acordo com um período posterior – a Baixa Idade Média (algo entre os séculos XI e XIV), época em que a própria lenda começou a ganhar força e popularidade.
O Arthur mítico se encaixa muito melhor em uma Europa fantástica, que só existe mesmo na imaginação das pessoas.
SÓ PARA RELEMBRAR
De acordo com a lenda, Arthur foi uma criança de sangue nobre que não tinha a menor idéia de sua verdadeira identidade. Certa vez, Uther Pendragon, obcecado por possuir a dama Igraine, esposa do Duque Gorlois da Cornualha, pediu ao mago Merlim que fizesse um encantamento que o tornasse igual ao duque.
Desta forma, Uther conseguiu ter sua noite com a moça, mas o feiticeiro exigiu um preço: o fruto de sua luxúria. Quando Arthur nasceu, então, Merlim veio buscá-lo, e o entregou ao cavaleiro Sir Ector para que fosse criado como filho adotivo.
Arthur cresceu como escudeiro de Ector. Aos 15 anos, enfim, ele encontrou a espada Excalibur e conseguiu removê-la da pedra, tornando-se assim rei legítimo.
Mais tarde, o monarca se casaria com Guinevere, seu único e verdadeiro amor, a mulher que iria trai-lo com o seu melhor amigo – Sir Lancelot.
Arthur sofreu, e com isso toda a terra adoeceu junto com ele. Iniciou-se assim a busca pelo Santo Graal, o Cálice Sagrado que traria a vida de volta ao rei e ao seu povo.
METÁFORAS E ALEGORIAS
Perceba que, como todo mito, as lendas arturianas são carregadas de alegorias.
A subtração do bebê Arthur por Merlim é uma metáfora que nos ensina que para tudo há um preço, especialmente quando estamos dispostos a ignorar a todos para alcançar nossos objetivos.
O Arthur escudeiro pensa ser um simples plebeu, mas na verdade possui aquele “algo especial”, que no caso é o sangue real. Como ele, nós somos pessoas comuns, somos seres humanos normais que vivemos constantemente tentando ser especiais. Em nossas histórias, somos sempre os heróis.
Quando sofremos uma grave ferida emocional, parece que não só nós, mas o mundo inteiro desaba, tal qual o reino de Arthur, assolado pela tristeza depois da traição de Guinevere.
Mas a busca ao cálice pelos cavaleiros da Távola Redonda nos mostra que podemos sempre encontrar amigos que nos ajudarão a trilhar a árdua jornada rumo ao Graal, o elixir que nos trará de volta à vida e restabelecerá nossas forças.
ARTHUR NA LITERATURA
Os mitos arturianos começaram a se popularizar já no século XII, mas a referência literária mais antiga e provavelmente a mais segura sobre o tema é o livro "Le Morte d'Arthur", de Sir Thomas Malory, publicado em 1485.
Visto aos olhos de hoje, Le Morte d'Arthur não é uma leitura aprazível. É um livro confuso e antiquado, mas é também um material precioso para estudiosos e curiosos.
Romances continuaram a ser lançados ao longo dos anos, em muitos idiomas diferentes, mas foi no século XX que coisa tomou proporções magnânimas.
Uma das séries mais célebres do nosso tempo é "As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley, que explorou o ponto de vista feminino da saga.
Outra autora, Mary Stewart, contribuiu com uma trilogia dedicada a Merlim (A Caverna de Cristal, As Colinas Ocas, O Último Encantamento).
Mais recentemente, o escritor britânico Bernard Cornwell ficou famoso por recontar a lenda utilizando o prisma histórico e colocando o Rei Arthur no cenário “real” do século V.
ARTHUR NO CINEMA
O cinema também soube explorar a popularidade do tema. O melhor filme já feito sobre o Rei Arthur é sem dúvida "Excalibur" (1981), de John Boorman, uma bela homenagem ao mito.
Uma visão totalmente adversa pode ser conferida no razoável "Rei Arthur" (2004), o longa com Clive Owen e Keira Knightley que retrata Arthur como o guerreiro romano que ele realmente pode ter sido.
Outro filme mais voltado para o mito, porém menos fantástico, é "O Primeiro Cavaleiro" (1995), com Sean Connery e Richard Gere, livremente inspirado na obra do poeta francês Chrétien de Troyes (século XII).
Outras produções mais antigas também são digas de nota.
"Knights of the Round Table" (1953), com Robert Taylor e Ava Gardner, é outra visão baseada no livro de Malory.
A 20th Century Fox também lançou uma versão cinematográfica da história em quadrinhos do "Príncipe Valente" em 1954, uma película dirigida por Henry Hathaway.
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