O CHAMADO DA DOR
A pequena cabana que fora construída recentemente no coração da floresta de bambus, ao sul de Wu Shao, servia muito bem como um lar para o samurai, sua amada e seus pequenos filhos gêmeos, Takeshi e Soujiro. Sakato Genjuro e Mia Wyn viviam felizes ali, mesmo com sua lenta prosperidade trazida pelos pagamentos de caçador e artesão que genjuro recebia. O outrora poderoso general agora sentia-se contente em capturar alguns cervos e construir pequenas estatuetas e ornamentos feitos de bambu, serviço que lhe permitia estar sempre perto de sua adorada esposa.
Na véspera do solstício de inverno Genjuro encontravam-se sentado à beira do riacho que corria para o oeste a cem passos de casa, observando Mia e as crianças, quando ouviu vindo da outra margem do rio um grupo de cavaleiros, pequeno, porém muito bem armado. Traziam a notícia que ele tanto temia e desejava nunca receber.
Seu lorde o convocara para servir mais uma vez à sua terra, mas dessa vez sua espada seria levada a lugares desconhecidos. Uma busca, ao invés de uma guerra, esse foi o único conforto que pôde dar à esposa enquanto empacotava o equipamento de viajem.
- Pedirei aos deuses para haver segurança em seu caminho e que o tragam de volta para mim antes do verão - Mia tentava conter as lágrimas, apoiada com uma das mãos no biombo feito pelo marido e a outra sobre o coração, tentando conter sua dor.
Genjuro parou para observá-la, continuava tão linda quanto no dia em que se reencontraram. Sentiu as lágrimas vindo e desviou o olhar. Não sabia se sua jornada duraria algumas semanas, talvez meses. Temeu ser obrigado a ficar longe de casa por mais oito anos.
- Peça aos deuses para que o daimyo me libere de minhas obrigações ao voltar desta jornada - o samurai falava observando a máscara da armadura que agora colocava junto às demais peças em um amarrado de nós bem preso -, ou então teremos muitas outras despedidas como esta.
Antes de sair do aposento, Genjuro encarou a esposa, aproximou-se lentamente e pousou o rosto em sua testa, os dois de olhos fechados, sabendo que mesmo sendo remota havia uma possibilidade de nunca mais se verem. Não contendo as lágrimas, tudo que o guerreiro pôde falar com a voz embargada foi o amável cumprimento que fazia à amada antes das caçadas.
- Me ilumine durante as noites mais densas, querida lua, e eu lhe trarei uma pétala de cerejeira na forma do meu coração.
Ele beijou a testa de Mia e saiu da casa, encontrando os pequenos e lindos filhos que o aguardavam, ambos segurando pequenas espadas de madeira. Pousou as mãos sobre as cabeças dos dois, mantendo o ar sério para impedir que o choro lhe viesse à face. Disse aos filhos que fossem bons e repetiu o ensinamento de seu antigo mestre, lhes dizendo que respeitassem a espada, se tornassem fortes e defendessem o homem fraco.
Os garotos assentiram com a cabeça e foram acolhidos pela mãe que sorria forçadamente enquanto seu esposo tão querido partia sem certeza de retorno.
E ele certamente jamais retornaria.
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