01 julho, 2013

A Partida - Wesley Alencar

     - Volta aqui, eu ainda não terminei!

     A voz de Julia ressoava em todos os cômodos da casa. Lucas atravessou o vão da porta, seguido pela namorada. Ele estava exausto, física e emocionalmente, porém, nada que dissesse faria diferença alguma naquele momento.

     Lucas atravessou o jardim e abriu o portão de grades de ferro recém pintadas para encontrar a rua deserta e úmida. Chovera muito naquele dia, um tempo ruim acompanha uma fase ruim, pensou.

      - Lucas! – gritou a garota – Se você sair por esse portão agora não precisa mais voltar. Eu to falando sério.

      Julia estava de pé sob o alpendre, de braços cruzados e com um olhar de desafio, aquele olhar determinado pelo qual ele se apaixonara. Ela não entende, não faz a menor ideia do que estou fazendo. Ele encarou a rua mais uma vez, achava que logo a chuva retomaria seu ritmo forte, como fora nos três últimos dias. Procurou a lua sem sucesso, pois ela estava oculta pelas espessas nuvens escuras que também lhe omitiam as estrelas. Ao voltar seus olhos novamente para Julia, viu que ela se mantinha na mesma posição, encarando-o enquanto lutava para conter as lágrimas que ambos sabiam que viriam, e os dois se olharam por um longo momento. Ela suspirou uma, duas vezes, e quando pareceu que iria dizer algo, calou-se, pois o garoto começou a refazer o caminho de volta para a casa, os ombros baixos e a respiração lenta. Cada passo parecia durar uma eternidade, e ele sabia que cada passo daqueles poderia estar lhe custando a eternidade.

      Julia empertigou-se e descruzou os braços que se enrijeceram ao lado do corpo enquanto ela cerrava as mãos, expressando sua ansiedade do modo mais previsível possível para Lucas, que precisou se esforçar para não exprimir um sorriso, apesar do sofrimento que lhe acometia. Lucas parou a um passo da garota morena de pele tão macia e pálida, pousou as mãos sobre seus ombros de forma suave, olhou bem no fundo dos seus olhos marejados e esperou o desafio no olhar se tornar incerteza, receio, e então súplica.

      - Palavras não bastam pra que eu consiga explicar a felicidade que sinto ao acordar de manhã ao teu lado. É o seu sorriso que me dá forças pra continuar todos os dias e é pensando nele que eu conquisto as minhas vitórias, porque pra mim ele é o melhor fruto de todo o bem que eu faço, mesmo quando você não está por perto. – Lucas curvou-se um pouco para poder continuar a olhá-la nos olhos, pois Julia estava ruborizada com suas palavras – Eu já disse isso algumas vezes, mas acho que você não entendeu ou não acreditou, então vou dizer mais uma vez. – suspirou profundamente erguendo os ombros fitando-a com serenidade no olhar, em seguida, proferiu as palavras lenta e carinhosamente – Eu te amo desde o primeiro dia em que te conheci, e tudo que tenho feito desde então foi pra fazer você feliz, porque é a sua felicidade que me motiva. Eu te amo com tudo o que tenho e com tudo o que sou. Preciso partir, mas vou voltar, eu prometo. Eu sou seu, pra sempre.

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