01 julho, 2013

Mãos Trêmulas - Wesley Alencar


    No pequeno escritório ouviam-se apenas duas coisas, batidas de salto alto no assoalho de madeira e suspiros nervosos. Com as dezenas de livros empilhados nas estantes como única companhia, Lua sentia-se mais solitária do que jamais havia sido em toda a vida até aquele momento e tudo que precisava, ou pensava precisar, era que sua melhor amiga estivesse ali para lhe dizer alguma coisa, qualquer coisa. Contar como conheceu na lavanderia uma senhorinha viúva que criava doze gatos, explicar o que significava a palavra esquisita que Lua encontrara em um dos manuais de medicina do irmão, prometer que vai dar tudo certo. Qualquer coisa, ou até mesmo nada, afinal apenas um abraço de quem amamos já é o bastante pra nos fazer sentir melhor e mais seguros. Mas dessa vez Lua teria que encarar tudo sozinha, bem, não exatamente “sozinha”, porque o prédio estava lotado, mas ninguém além de Júlia poderia fazê-la sentir-se melhor naquele momento tão tenso, tão... tão...

    Em um dia comum Lua estaria falando sozinha, questionando a si mesma que motivo teria para estar tão apreensiva. Diria na frente do espelho coisas como “Deixe de ser infantil garota, você é muito maior que isso!”, mas lhe faltavam palavras, sua garganta secou e o coração pulsava tão forte em seu peito que pensou por bastante tempo que poderia ter um infarto ali mesmo. Que jeitinho mais ridículo de morrer. Deus me livre, pensou.
     E continuava a caminhar.

     Ela não notou o tempo passar, e assustou-se com o movimento brusco da porta de carvalho que se abriu revelando sua prima Ana, que de todas as sete era a que mais se aproximava de ser uma amiga, acima dela estava um relógio de parede redondo de moldura dourada que marcava meio-dia, o que a deixou ainda mais assustada. Ana entrou no escritório, a examinou como se fosse um alienígena e esboçou um ar do que pareceu ser repulsa.

    – Você andou chorando?

    É claro, sua bocó, o que mais eu faria ficando aqui sozinha esse tempo todo?

    Lua manteve seus pensamentos para si, saltitou para a pequena porta que levava ao banheiro e instantes depois regressou com passos incertos e respiração ofegante. Do lado de fora do escritório ela já podia ouvir o burburinho que vinha do outro lado da grande porta dupla a qual se dirigia. Ana guiou-a a um corredor onde encontrou seu pai examinando o celular inquieto, até percebê-la, quando desligou e guardou o aparelho e olhou-a nos olhos com o ar duro que só um militar reformado tem.

    – Estava chorando, menina?

    Mas que droga, tá tão na cara assim?

    Ela apenas abriu um sorriso amarelo, o bastante para o Sr. Clóvis entender como se sentia. O sisudo senhor hesitou por um instante, então beijou-a suavemente na testa e guiou a pequena mão trêmula e gelada da filha em torno de seu braço.

    As grandes portas se abriram, revelando o grande salão com dezenas de pessoas observando-a. A música tocava muito alta, quase não havia pétalas espalhadas no caminho, um casal de conhecidos seus chegava atrasado de mansinho pelo corredor lateral, suas costas estavam doloridas de tanto caminhar sobre os saltos e suas mãos não paravam de tremer, e questionava a si mesma: “Será que o vestido tá manchado ou torto? Eu retoquei a maquiagem, mas e se tiver borrado de novo? Se eu não me controlar e parar de tremer agora vou acabar caindo. Ai que vergonha!”.

    Luanna estava completamente possuída pelo nervosismo. Até ela olhar diretamente à sua frente, onde ele a estava esperando. O homem da sua vida.

    E como num passe de mágica, tudo que estava errado passou a ser perfeito.
    E ele disse sim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário