16 agosto, 2010

'ESTRANHO' - Adriano Kurumu (Parte 2)

II - O quarto

No meu quarto olho para o teto. Estou cansado e vazio.
O tempo passa é andrógino, enfim, não tenho relógio e pouco faz diferença o tempo.

Já estou cansado. Lá fora, depois da janela (lá embaixo sabe?), os carros são velozes e as pessoas
robóticas como num futuro que passou.
Fios de almas vazias.
Tenho e sinto dor. Não sei... Não sei merda! Não sei por qual motivo tenho e sinto dor! Você por
acaso é psicólogo?
Você é apenas um leitor! Se for ficar ai se metendo, parando a leitura por motivos fúteis melhor
parar de ler, merda!

Pelo menos aqui, aqui, bem aqui, sou eu quem falo!

Cabelo bagunçado e olhos escuros são como sou, tenho vontade de me levantar, mas tipo bate
mó cansaço. Quero ir ao espelho, mas tenho medo ,medo de ver esse nariz de gancho e essa carne
fina colada sobre os ossos. Já sou como o absurdo, cego surdo e mudo! Se ligou? Rimou e tudo!
Caçamba, eu devia escrever isso... Ah, não, já to escrevendo... Droga!
Não tenho nada para fazer. Respiro fundo. Enfim achei algo para fazer, respirar! Você por acaso
já respirou hoje? Ah, não, foi mal, nem me liguei que você é uma máquina, foi mal mesmo, é que
tipo, sei lá, essas máquinas de hoje tão ficando sinistras, já nascem e tudo! Legal, daqui a pouco
vão estar ate sentindo...

Legal, vou parar de viajar...
Parei...
Sério, parei...

Vou para a janela, um ar poluído bate-me nas narinas, fecho a janela, to vendo daqui os prédios
escuros ... Ver as coisas por detrás do vidro torna as coisas tão diferentes, sei lá, estranhão.

Vejo também as cores digitais, mas porra, o sol, cadê? Caramba, Mó tempo que não saio, será que
venderam o sol também, que nem fizeram com a lua? Espero que não, mas pensando bem, tem um
tempo que já não sinto nem vejo luz alguma entrando pela minha janela...

Ah!
Grito!
Isso ai! To gritando não ta ouvindo?!

Gritando!
Gritando!

Ah, que merda fizeram com meu mundo? Droga!

Você acha que estou drogado, não é?
Fala logo, eu sei que você ta pensando isso...

Eu sabia que não devia ter dormido por muito tempo! Eu sabia!
Abro a janela! Aperto forte o vidro, não consigo segurar o choro...
As lágrimas impulsivas teimam em descer pela superfície lisa do meu rosto!

- Merda!
Limpo minhas lágrimas. Olhando para minhas mãos fico assustado.
Ela está negra, como o mais barato dos petróleos...

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