RENASCER SOB A LUA
Poucos passos separavam o corajoso guerreiro do seu objetivo. Nenhuma batalha até agora o fizera sentir tão nervoso quanto estava naquele momento, as mãos trêmulas e a respiração ofegante denunciavam sua apreensão: Serei vitorioso? Serei honrado? Serei digno?
Muitos pensamentos de dúvida rodeavam a mente do poderoso esgrimista enquanto caminhava, o mais pavoroso lhe veio de encontro no momento em que chegou em seu destino: Serei aceito?
Olhou para o belo jardim que cercava a entrada por ambos os lados, repleto de rosas brancas. Prendeu a respiração por alguns instantes, fechou os olhos e inspirou profundamente o refrescante ar das colinas. Ao abrir os olhos foi encantado pelo brilho que vinha do céu. Milhares de estrelas rodeando o enorme globo branco que lhe iluminava naquele início de noite. Pensou que poderia citar um belíssimo poema que ouvira certa vez, entoado por um sábio monge, um velho amigo.
Entretido em sua contemplação, o samurai era observado por pequenos olhos azuis como o céu em uma manhã de verão, a observadora estava entre algumas vinhas que cresciam em uma cerca lateral da casa. O primeiro passo, mesmo descalço sobre a relva baixa, alertou o robusto visitante, que prontamente pôs a mão sobre o cabo de sua espada. Ao perceber quem se aproximava, relaxou. Os longos cabelos rubros, presos em rabo-de-cavalo, aquietaram-se sobre seu ombro enquanto observava a beldade de pele tão clara se aproximar. Estava mais linda sob a luz do luar do que jamais estivera em momento algum desde que a deixara para servir a seu país com a promessa de que voltaria para desposá-la.
O samurai voltou-se completamente para a linda mulher e observou a lua mais uma vez. Não sabendo o que dizer de início, decidiu que o poema em sua mente falaria melhor sobre o que sentia em seu coração. Pousou as duas mãos unidas na frente do corpo e começou a falar com uma voz mansa e suave.
“Quando a lua cai sobre a noite,
Refugio-me do êxtase.
Com meus pensamentos
Embriago-me com seu rosto.
Seu olhar rouba dois minutos o meu coração,
Lua cheia você seduz a criatura mais feia.
Tua beleza é o ápice da perfeição,
É o espetáculo da natureza mais fascinante.
Você gera a beleza da noite.
Embriaga o coração.
O seu espetáculo é inesquecível
Diante de você princesa da noite,
Sou um puro inocente
E curvo-me diante de ti princesa,
Sou noite”.
A jovem de lisos cabelos negros o observava, fascinada com a serenidade que havia nos olhos escuros que contemplavam a lua e, somente nas últimas estrofes do poema, voltaram-se para ela. Olhos transbordantes de afeto.
Após anos de espera, finalmente seu amado, sua paixão desde a adolescência, retornara dos infindáveis embates em que sua vida dependia da sagacidade e do desejo de revê-la. Por várias vezes ele pensou em desistir, entregar-se ao chamado dos deuses e perecer, mas o amor pela linda camponesa foi maior do que todas as tribulações pelas quais passou. Agora ele estava ali, bem na sua frente para torná-la sua protegida, sua companheira, sua amada esposa.
Não pôde conter as lágrimas.
Uma imensa felicidade percorreu-lhe todo o corpo, o sorriso na pequena boca de lábios estreitos apaziguou o coração do guerreiro, que desprendeu a espada da cintura e começou a caminhar na direção de sua amada. Ela correu ao seu encontro, abraçando-o com se nunca mais fosse vê-lo novamente. Ouviu o coração dele pulsar agitadamente dentro do peito e sentiu seus braços cercando-a vagarosamente, amável como sempre fora.
Após oito anos de espera, oito anos de súplicas, batalhas e sacrifícios, era chegada a hora de colher os frutos da paciência e esperança que haviam plantado em seus corações. Era chegada a hora de estarem juntos. Para sempre.
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