19 agosto, 2010

'ESTRANHO' - Adriano Kurumu (Parte 3)

III - A Queda – O Beco Um dia Antes, O Quarto Trinta Segundos Depois.

Andando pelas ruas vazias da Cidade Cinza não me encontro. Os carros são velozes. Meus ombros
baixos revelam-me.

Não é o corpo manifestação do Espírito?
Becos e estranheza. O que Eu sou em meio a esta podridão?
Becos, carros e fantasmas que vem e vão. Figuras vazias...
O que Eu sou?
Figura Vazia?
Absurdamente absurda me sinto como sempre me senti, sentimento este que nunca defini por
falta de habilidade, talento e vontade própria.
Andando, andando...
O ritmo é esse mesmo, o ritmo da Cidade é esse mesmo...
Repetições, fragmentos inteiros de sentimentos insensíveis.

Andando, andando escuto um grito que vem do horizonte finito, por um momento paro em meio à
multidão andante e movo lentamente minha visão para o alto edifício, vejo que o grito antecede o
vidro despedaçado, silencioso se desfazendo em mil pedaços enquanto um corpo cai do prédio.
Toda cena é desprovida de som.
Toda cena é encantadora, lenta como um canhão da segunda guerra mundial e ao mesmo tempo
rápida como a mais moderna máquina industrial.
O corpo se contorce quebrando todas as leis da física que eu conheço - não muita coisa.
Ele está caindo...
Todos estão andando como figuras sem formas.
Ele está caindo e pergunto-me porque tanto demora, meus olhos abertos sem expressão já
começam a lacrimejar, quero ver a queda.

Minha cabeça acompanha o corpo desconhecido na sua rota vertical com destino ao solo
corrompido.
Sinto que nada sinto e isso durante a queda me incomoda.

Está chegando o fim desta agonia que não sinto, logo ele, o corpo, sentirá seu destino. Quando o
corpo se encontra próximo ao chão em sua lenta e rápida decadência, sincronicamente todos se
param e movem lentamente seus rostos para a futura queda.

Não acredito no que vejo, estou surpresa!
O corpo explode transformando-se num líquido espesso e negro que se espalha por todo local...

Todos estão andando novamente, como se não tivessem presenciado nada, apenas mais uma
morte.
Mantenho-me imóvel.

Parte daquele líquido manchou minha blusa branca.
Mantenho-me imóvel.

Algo em mim havia mudado.
Precisava fazer algo.

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