23 agosto, 2010

A União Imperial - Vol. 1 [Parte2]



RAPOSA DE ÉBANO

         Tudo calmo em Signa, a cidade dorme tranquilamente sobre os maquinários que trazem à superfície água límpida e sustentam a vida no segundo distrito do país a utilizar-se da tecnologia mais avançada de toda a União. O trem, a mais apreciada invenção nacional, deverá chegar apenas pela manhã para apanhar o carregamento de frutos do mar, o que torna a vida na cidade extremamente silenciosa à noite. O silêncio a torna perfeita para gatunos habilidosos.
         Entre as casas de madeira, vidro e metal há um lindo palacete, a prefeitura, onde dormem confortáveis em meio a um privilegiado luxo o prefeito Nourdys Galtimore e sua família. Não esperavam pela surpresa daquela noite.
         Adentrando a pesada porta de carvalho e ouro estava uma figura sombria, esguia e silenciosa. Ao ver o gordo prefeito e sua velha esposa ainda repousando ele pôs de volta as ferramentas na pequena bolsa negra de couro que trazia agarrada à cintura. Seu corpo estava completamente encoberto por um manto escuro, descobrindo apenas os atentos olhos castanhos, que procuravam o motivo de sua invasão. Até encontrá-lo. Deu alguns passos na direção do casal adormecido e então convergiu para o canto noroeste do quarto, onde estava o quadro que procurava. Fácil demais. Procurou por mecanismos de alarme, como fios escuros presos a sinetes, gatilhos de pressão disfarçados de falhas no piso, observou até mesmo as demais pinturas tentando perceber olhos perfurados substituídos por reais vigilantes do premio que ele buscava. Nada, absolutamente nada.
         Decidiu seguir em frente. Retirou de dentro da bolsa em sua cintura alguns instrumentos para realizar a tarefa mais complicada da noite. Vagarosamente, tentou retirar o quadro do lugar e percebeu que ele estava afixado na parede por grossos pregos. Passou então a recortar com cuidado o contorno interno da pintura.  Retirou a tela dali, pondo-a em uma estante próxima, ao alcance da mão. Diante dele estava o cofre que continha sua passagem para a fama entre todos os ladrões do país. O reconhecimento que tanto desejava. Seria grande, seria rico, seria aclamado pelas mulheres em todos os bordéis por onde passasse. Sim, as mulheres! Distraiu-se por um longo momento, perdido nas lembranças de Semilla, a linda elfa que o prendera com seus talentosos encantos. Ela era uma bailarina excepcional e uma amante incomparável.
Um leve estalo metálico vindo de trás de sua cabeça o interrompeu em seus devaneios. Sua distração lhe custou tempo precioso para realizar a tarefa em curso.
— Pensou que iria levar meu tesouro facilmente, ladrão? — o prefeito apontou o mosquete, sua mão tremia, contrariando a voz firme — Devia pensar duas vezes antes de invadir minha casa!
O gatuno amaldiçoou silenciosamente a si mesmo pela displicência e ergueu lentamente as mãos, quando elas alcançaram a altura de sua cabeça ele virou-se com um movimento rápido. Com uma das mãos, apanhou a arma do robusto prefeito, com a outra o puxou para perto de si, apontando a arma para sua cabeça.
Naquele momento, um pequeno pelotão de soldados empunhando longas espadas adentrou o quarto. A esposa do prefeito despertou, entrando em pânico ao assistir toda a cena, caiu da cama e engatinhou para um canto do quarto, contendo o choro.
— Mande-os ficarem onde estão — ordenou o invasor — e depois abra o cofre.
O prefeito obedeceu prontamente. Os guardas permaneceram imóveis enquanto a figura sombria apanhava das mãos do refém o prêmio que viera buscar. Agora estava na hora de fugir. O plano inicial era partir pelo telhado, por meio da chaminé que encontrara no salão de reuniões não muito longe dali, mas agora precisava improvisar sua saída. Não pensou duas vezes, disparou contra os soldados, que tentaram se proteger atirando-se ao chão e arremessou o prefeito na direção deles. Ao perceberem que o tiro não atingira ninguém, os soldados ergueram-se para apanhar o assaltante, quando a pesada porta desabou sobre todos eles. O ladrão atirara na dobradiça que sustentava o peso da madeira, fazendo-a cair sobre os soldados, contendo-os enquanto escapava.
Saltou, quebrando o vitral da janela, do lado de fora, arremessou sua corda com um gancho preso à ponta no telhado da mansão, prendendo-o para aliviar sua descida. Chegou rapidamente ao chão, abandonando a corda para não atrasar-se mais ainda e seguiu em direção ao velho teatro, que usava como esconderijo naquela cidade tão distante de sua casa. Não teve maiores problemas para alcançar seu refúgio, parando apenas ao adentrar a passagem secreta que criara nos fundos da antiga construção.
Sentou-se sobre algumas almofadas amontoadas sobre um belo carpete e pôs o objeto sobre uma pequena mesa próxima, observou-o, era uma pequena caixa preta feita de couro, possuía vários escritos gravados em todos os lados, em um idioma que ele desconhecia completamente. Fora instruído a não abrir a caixa, apenas entregá-la ao comprador, porém, a curiosidade foi maior que a paciência. Retirou novamente o kit de arrombamento da bolsa e começou o delicado trabalho, não muito tempo depois conseguiu destrancar a caixa e descobriu o que havia em seu interior.
Sua vida estava prestes a mudar. Para sempre.



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