28 abril, 2011

Romero vs. Snyder. Quem fez o melhor Madrugada dos Mortos?



Foi em 1968 com o clássico Night of the Living Dead que George Romero debutou no cinema definindo regras para o universo dos zumbis que são seguidas até hoje. Os golpes que devem ser direcionados ao cérebro, a mordida contagiosa… estavam todos lá. Mas Romero foi além, e abusou do que seria a sua maior contribuição para os filmes de terror: as metáforas sociais. Dawn of the Dead (1978) é considerado uma obra prima até hoje, não apenas pelo caráter violento ou por todo o gore utilizado, o que na época ainda chocava, mas sim pela forma como satiriza o “way of life” americano rindo da sociedade de consumo e do capitalismo. Os Zumbis são lerdos, e praticamente sem reação, tornando possível correr entre eles sem problema algum. Dessa forma, com menos correria, Romero tem mais tempo para trabalhar suas críticas, enriquecendo o texto do filme. As criaturas em si não são tão perigosas quanto os efeitos que elas podem causar nas pessoas. O que acontece quando o número de emergência para de funcionar? Medo, loucura, covardia e oportunismo nesse caso são mais perigosos do que as mordidas.

 Zack Snyder, um dos diretores mais pops do cinema atual, também teve a sua primeira vez com um Zumbi (ou vários). O cineasta estreou em 2004 com a nova versão de Dawn of the Dead. Snyder literalmente botou os zumbis para correr, a exemplo de Danny Boyle com seus infectados em O Extermínio (2002). A fórmula funciona, mas deixa menos espaço para as metáforas sociais, que ainda estão lá, mas se perdem no meio da correria. O Filme é tenso do início ao fim, possui um roteiro bem estruturado e sequências de ação fantásticas, muito bem orquestradas por Snyder. O diretor também se preocupou em prestar seus respeitos ao filme original, convidando os principais atores para participarem de pontas em seu filme.


As histórias dos dois filmes são completamente diferentes, compartilhando apenas os zumbis e o local de refúgio. Na versão de 1978 dois funcionários de uma rede de TV, um deles piloto de um helicóptero que está parado no topo da emissora, se juntam a dois policias da Swat com o plano de fugir para o Canadá. No caminho eles encontram um shopping center onde decidem parar

para procurar mantimentos. Lá, tem tudo que os sobreviventes precisam, de munição a comida. A possibilidade de viver em um shopping center, usufruindo de todos os seus benefícios sem se preocupar com a conta, faz com que o grupo esqueça o Canadá, e fique por ali mesmo. Claro que as coisas se complicam mais além, mas não quero estragar o filme para quem ainda não viu.

Na versão de 2004 o grupo é maior e mais diversificado. Temos desde o vendedor de TV até o cara que costumava roubar TV´s. Eles se encontram no caminho para o shopping center. Dentro do shopping eles ainda encontram mais 3 seguranças que tentam manter o refugio só para eles, mas que com o tempo e a dose certa de força acabam cedendo espaço para os demais. Enquanto eles tentam entender o que está acontecendo com o mundo e se existe a possibilidade de resgate para os que ficaram para trás, os mortos passam a se empilhar nos arredores (estamos falando de uma multidão), guiados ao local por suas memórias e instintos mais primitivos. Sim, junto com a fome está a vontade de consumir.


Mesmo correndo o risco de cometer blasfêmia diante dos fãs fiéis de Romero eu sou obrigado a confessar que gostei mais da segunda versão do filme por muitas das razões já citadas acima. Admiro em diversas camadas as críticas disparadas por Romero e acredito que a sua visão, ou tentativa de previsão, para o futuro da sociedade caso esta tenha que enfrentar situações extremas é absurdamente inteligente e pertinente. Mesmo assim, eu admiro a refilmagem por não ter a pretensão de tentar refazer o filme de Romero, ou pelo menos não tentar se igualar em níveis intelectuais. Acredito que o objetivo de Snyder foi fazer um filme divertido, que petrificasse seu público nas cadeiras do cinema até o ultimo minuto. Snyder foi bem sucedido com isso.

Dica: vale muito a pena conferir os extras do DVD do filme de Snyder. Entre muitas coisas legais, tem dois curtas fantásticos. Um deles, uma cobertura jornalística sobre a infestação ao redor do globo. O outro, seria um diário que foi filmado por Andy, que interage com o grupo principal confinado no shopping do topo de sua lojas de armas. É muito bacana conferir a história do ponto de vista dele.

Fonte: Paprica

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